Nosso ato de pensar comunica, para nós e para
os outros nossas intenções, paixões, interesses, compreensões diversas sobre a
vida. Tudo isso explica nossa capacidade adaptativa. Fizemos ajustes em nosso comportamento.
Nos ajustamos às circunstâncias, às mudanças, aos desafios, enfim, somos seres adaptados
ao mundo que criamos e que, algumas vezes, destruímos.
É bom lembrar que a ciência começou com
observações dos fenômenos da natureza e da vida em geral. Desse modo, pode-se
inferir que nós todos colaboramos com os momentos iniciais do fazer científico,
fornecendo dados da nossa experiência para serem estudados, de forma
aprimorada. Isso, para dizer que as significações do mundo são construídas por
nós, pela consciência que temos das coisas, das pessoas, dos valores.
Espanta-nos, por exemplo, o que vemos,
ouvimos e lemos, diariamente, acerca da violência contra a mulher. Impacta-nos
os registros das mortes das vítimas, que já procuraram auxílio nos órgãos
oficiais e não foram atendidas. Mas, o que está na mente dos maridos,
companheiros, amantes que usam a violência no trato com a mulher? Que ela é sua
propriedade, que ele é seu dono e que decide como senhor sobre a vida e a morte dessa pessoa. Quem age assim, como
exerce seu pensar?
Precisamos sempre de leis para regrar comportamentos,
ou melhor, para disciplinarem nossas atitudes de adaptação. Mas isso também não
é bem entendido, há pessoas refratárias às mudanças dos novos tempos. O caso
dos idosos, outro exemplo. São olhados com descaso, estranheza e até
desrespeito, porque lhes foi dada prioridade nas filas de bancos, comércio,
lugares de ônibus e isso causa incômodo aos que não estão vivendo as
dificuldades dos idosos e os olham com desprezo, como se eles fossem
privilegiados. Se têm algum privilégio, foi o de viverem até essa idade e só
por essa razão, os mais jovens poderiam olhá-los com carinho. O que dizer do
motorista do ônibus que arranca bruscamente, não esperando o doso descer, no
seu tempo, a ponto de ser jogado no asfalto?!
Qual a experiência do pensar que tem a consciência de uma pessoa que
trata a outra dessa forma?
Nossa experiência de pensar é construtora de
sentidos, de significados. Ao olhar os outros, o mundo, a nós mesmos, já
expressamos a compreensão de significações. O que percebemos está associado aos
conteúdos de nossa consciência. Percebemos o vivido, daí a unidade entre a
experiência e o saber. Nossa percepção envolve valores, afetos, reconhecimentos,
rejeições.
Alguém que mata a pessoa com quem vive, por
não conseguir dominá-la, como construiu seu mundo de percepções? E que olha os
idosos com desconforto e intolerância, que valores construiu, para perceber o
outro?
Nosso pensar indica nosso viver. Nossa consciência
na relação com o mundo é quem constitui as significações. Revela nossas
experiências.
Cecilia Pires
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