6.6.13

Experiências e Significações




Nosso ato de pensar comunica, para nós e para os outros nossas intenções, paixões, interesses, compreensões diversas sobre a vida. Tudo isso explica nossa capacidade adaptativa. Fizemos ajustes em nosso comportamento. Nos ajustamos às circunstâncias, às mudanças, aos desafios, enfim, somos seres adaptados ao mundo que criamos e que, algumas vezes, destruímos.
É bom lembrar que a ciência começou com observações dos fenômenos da natureza e da vida em geral. Desse modo, pode-se inferir que nós todos colaboramos com os momentos iniciais do fazer científico, fornecendo dados da nossa experiência para serem estudados, de forma aprimorada. Isso, para dizer que as significações do mundo são construídas por nós, pela consciência que temos das coisas, das pessoas, dos valores.
Espanta-nos, por exemplo, o que vemos, ouvimos e lemos, diariamente, acerca da violência contra a mulher. Impacta-nos os registros das mortes das vítimas, que já procuraram auxílio nos órgãos oficiais e não foram atendidas. Mas, o que está na mente dos maridos, companheiros, amantes que usam a violência no trato com a mulher? Que ela é sua propriedade, que ele é seu dono e que decide como senhor sobre a vida e a morte dessa pessoa. Quem age assim, como exerce seu pensar?
Precisamos sempre de leis para regrar comportamentos, ou melhor, para disciplinarem nossas atitudes de adaptação. Mas isso também não é bem entendido, há pessoas refratárias às mudanças dos novos tempos. O caso dos idosos, outro exemplo. São olhados com descaso, estranheza e até desrespeito, porque lhes foi dada prioridade nas filas de bancos, comércio, lugares de ônibus e isso causa incômodo aos que não estão vivendo as dificuldades dos idosos e os olham com desprezo, como se eles fossem privilegiados. Se têm algum privilégio, foi o de viverem até essa idade e só por essa razão, os mais jovens poderiam olhá-los com carinho. O que dizer do motorista do ônibus que arranca bruscamente, não esperando o doso descer, no seu tempo, a ponto de ser jogado no asfalto?!  Qual a experiência do pensar que tem a consciência de uma pessoa que trata a outra dessa forma?
Nossa experiência de pensar é construtora de sentidos, de significados. Ao olhar os outros, o mundo, a nós mesmos, já expressamos a compreensão de significações. O que percebemos está associado aos conteúdos de nossa consciência. Percebemos o vivido, daí a unidade entre a experiência e o saber. Nossa percepção envolve valores, afetos, reconhecimentos, rejeições.
Alguém que mata a pessoa com quem vive, por não conseguir dominá-la, como construiu seu mundo de percepções? E que olha os idosos com desconforto e intolerância, que valores construiu, para perceber o outro?
Nosso pensar indica nosso viver. Nossa consciência na relação com o mundo é quem constitui as significações. Revela nossas experiências.
Cecilia Pires

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