Num
calendário de mensagens está a seguinte reflexão: “Cada um de nós tem seu modo
de pensar e de agir. São diferenças muito importantes, que enriquecem as
opiniões e auxiliam nas decisões. Aceitar as divergências significa abrir-se
para aprender e reconhecer a capacidade e o talento das outras pessoas”.
Lembrei
dessa mensagem ao ordenar minhas impressões de viagem. Incomensurável as
diferenças entre os povos, as nações, as culturas, o que produz uma
oportunidade de aprendizado, de crescimento e sobretudo de compreensão de
outros mundos, de outras visões, de outras formas de viver. Penso tudo isso com
extremo respeito, ainda que causem impactos e incidam sobre valores que adoto e
que nem sempre são os mesmos dos outros. Viajar também é compreender espaços de
tempo e de história que desafiam.
Percorrendo
sítios arqueológicos de cidades históricas, ruínas de templos de deuses
adorados, caminhos e lugares em que o povo se manifestava votando as leis, como
a ágora de Atenas, por exemplo, me remetem a pensar as formas de vida que a
humanidade escolheu para viver. Você se permite imaginar filósofos e legisladores
atuando nesses lugares! Você reflete sobre uma certa ousadia, quando foi criada
uma forma de participação conjunta, chamada democracia, cuja origem dêmos, denota a parte de um território
em que habita um grupo ou uma comunidade. Ganha mais tarde o sentido político
de povo, cidadãos que votam as leis. Essa cultura democrática se perdeu nas mudanças
históricas.
Andar
pelas ruas de Atenas me faz sentir parte dessa história não só dos gregos, mas
de toda humanidade, por ser a história do pensamento. Cruzar o caminho das
pessoas de cultura diferente da gente é sempre uma troca e um alargamento da
própria compreensão, como sujeitos do tempo e do espaço planetário. Das vestes
às comidas, tudo se torna um dado para o pensamento. E os relatos estimulam os
porquês da Filosofia, os quais dançam, com veemência, na mente do visitante.
Aeroportos,
portos, ruas, cidades, ilhas oferecem ao coração e mente mais motivos de
análises e questões. Por que algumas mulheres devem estar cobertas dos pés à
cabeça como necessidade de esconder o corpo? Fico a imaginar como se sente uma
mulher assim escondida, tendo apenas os olhos como ponto de contato com o
mundo?! Como elas contatam e afagam seus filhos?! Que sentem as crianças dessas
mulheres cobertas, cujos véus buscam separá-las do mundo? Separam também dos
afetos??
No
mesmo instante em que vejo essas pessoas reclusas em suas vestes, contemplo no
mesmo ambiente uma jovem mãe, amamentando seu bebê, evidenciando seu corpo.
Fico a pensar como a cultura, os ritos, as religiões, os costumes, as tradições
podem libertar ou aprisionar os sujeitos. São reflexões que me assaltam,
enquanto como todos sou peregrina deste mundo.
Singrar
pelo mar azul, observar o voo tranquilo das gaivotas, que destemidas chegam estimuladas
pelos alimentos oferecidos pelos passageiros do navio, sentir a natureza magnífica em sua
complexidade de montanhas e ilhas é viver a intensidade de uma alegria
dionisíaca e de um ordenamento apolíneo. A Grécia me fez sentir essas emoções. Singular!
Pensar,
entender e aceitar as diferenças são desafios para todos. Desenhos de vida que me tocam e me movimentam
para desejar um futuro em que a humanidade se sinta feliz.