8.3.17

MULHER, MULHERES


Pensar em homenagem à mulher e às mulheres todas, inúmeras, incontáveis me faz relembrar da minha infância, vivida entre mulheres que trabalhavam, eram zelosas com seus filhos e maridos, autênticas, sem muito conhecimento teórico, mas com grande sabedoria para viver a vida, nem sempre projeto delas. De tantas mulheres que povoaram meus caminhos de criança tenho na memória as Adélias, as Castorinas, as Terezas, as Marias de todos os tons e sabores e a Mercedes, que era a minha mãe. Essas mulheres não sabiam, à época, que tinham direitos, tanto quanto os homens, nem mesmo que poderiam fazer greves e lutar pelo que desejavam e que um dia no calendário, haveria um dia específico, que seria o Dia Internacional da Mulher. No silêncio de seus corações e mentes sabiam que embalavam um mundo, quando embalavam o berço, como referia uma mensagem divulgada naquele tempo.
Minha lembrança me traz aos olhos e à mente a figura da minha mãe, já referida, uma mulher responsável e digna na sua simplicidade grandiosa, que foi à luta para criar as filhas, no enfrentamento de preconceitos e segregações. Vejo-a, noites a fio, na sua máquina de costura, envolvida com suas criações e modelos, produto de um trabalho a ser comerciado, para auxiliar no sustento da família. Se cheguei a ser a professora, que me tornei devo muito a essa pessoa singular em minha vida, que junto com meu pai me passou valores de autonomia e honradez. Contava-me que aos 9 anos desejava muito aprender a ler e pediu com insistência para ir à escola. Um parente ouviu seu pedido e a matriculou numa escola pública no interior deste Rio Grande do Sul. Ficou feliz a pequena menina órfã por conseguir lidar com as letras, além dos seus contornos. E se hoje eu lido com as letras, por dentro de seus significados, houve uma origem exemplar na minha vida, minha mãe, que sempre foi sensível ao conhecimento, criando todas as condições para que eu fizesse a minha caminhada, cuidando, mais tarde dos meus filhos pequenos para que realizasse meus estudos de doutoramento.
Por isso, nesse dia, que a homenagem à mulher é realizada sobre todos os aspectos, eu homenageio na pessoa de minha mãe, Mercedes, a mulher trabalhadora, a mulher honrada, a mulher negra, a mulher indígena, a mulher discriminada pelo preconceito, a mulher lutadora, a mulher de fé, a mulher que acredita que tem um lugar no mundo para construir uma relação de solidariedade com todos, que encontra, também, no espaço do lar um campo de luta.
Com carinho e alegria por ter vivido até aqui, abraço a todas as mulheres que hoje, vivem num mundo de inúmeras contradições, de violência, de negação de direitos e mesmo assim resistem e continuam assumindo este papel inteligente de compreensão das complexidades da vida.
Às mulheres quero dizer que o dia de hoje seja comemorado com a lucidez de quem sabe, que os nossos companheiros homens, solidários com as nossas conquistas, fazem parte deste processo de crescimento da sociedade com mais tolerância e igualdade.