Em
tempos de memória de sacrifícios, ao verificarmos nos registros da história que
o povo decidiu libertar o ladrão e crucificar o Justo, pensamos nas várias
formas vividas, hoje, pelos crucificados.
Quando
criança, ao ser levada às celebrações da Semana Santa me impressionava muito o
silêncio das famílias e da Igreja, o jejum e a figura do Cristo morto, coberto
de chagas. Em meu imaginário infantil surgiam simples indagações: – como alguém
pode machucar tanto outra pessoa, a ponto de levar à morte!? Evidente que, ao
longo da minha vida, essa indagação de criança sofreu diferentes alterações,
buscou inúmeras respostas lógicas ou nem tanto, e ainda hoje continua, na
complexidade do que se vive agora, exigindo explicações. Onde encontrar algo
que justifique, tanta desonra, tanto privilégio, tanta desigualdade, tanta
mentira e sobretudo tanto escárnio sobre o querer humano de Justiça?
Penso
em como caracterizar os crucificados de hoje, levados dia a dia ao cadafalso,
carregando a própria cruz ao cimo do monte, sentindo no peito o toque da lança
que abre a chaga definitiva e termina com suas vidas. E nem sequer são dignos
de participar da Ceia, são vetados por meio de políticas públicas
discricionárias, que acumulam desigualdades e impedem o avanço das pequenas
conquistas.
Em
mais esta Passagem, vemos o sinistro espetáculo de bombas destruindo a vida de
inocentes, ouvimos listas e mais listas de mercadores da dignidade na vida
política, assistimos a ruptura do elo social aqui e nos demais lugares. Que
fazer? Que pensar? Que esperar? Que venha alguém com força e dignidade e
expulse os vendilhões do Templo, como fez Cristo em Jerusalém? Neste agora de
cruzes e sacrifícios, até quando iremos chorar no Monte das Oliveiras, até
sermos entregues com um beijo de Judas aos soldados do Poder?
O
desejo, a necessidade, o impulso é de resgate desses crucificados cotidianos
que não têm seus salários pagos, seus direitos respeitados, seus lugares
preservados. Este não é um sonho quixotesco, é tão somente a inquietude humana
que leva a ouvir o clamor dos que diariamente vivem o Calvário de carregar a
cruz, crucificados entre os ladrões.
Em
todo esse cenário de Via-Sacra, não podemos deixar de esperar uma Páscoa de
Esperança e de Paz, na expectativa de novas forças e novos protagonismos,
construindo uma Ressurreição que nos leve a querer um País Novo, um Mundo Novo,
uma Terra Nova.