Desde pequenos somos estimulados a
vencer sempre e em tudo sermos os melhores. Da família, passando pelos períodos
iniciais da vida escolar, às iniciações religiosas, todo o tempo de nossa formação
é voltada para o êxito.
Será essa atitude vinculada ás
compreensões dos limites humanos? Em ocasiões
de vitória ou de fracasso são chamados para serem ouvidos, como bons arautos,
psicólogos, antropólogos, sociólogos, economistas e demais especialistas. Como raramente
é chamado o filósofo para dar seu parecer, ouso opinar, sem ser chamada.
Trata-se
do que estamos vivenciando, como povo, como sociedade brasileira, o evento da
Copa do Mundo e, particularmente, o fracasso da seleção, que, no meu tempo, era
chamada de seleção canarinha, a qual aprendi a amar, torcendo sempre pelo seu
sucesso. Pois bem, neste momento, parece que vivenciamos um luto, tal o tamanho
da perda que sofremos como país, nação, povo, imaginário nacional, enfim, tudo
o que quisermos caracterizar.
Falo
do meu lugar interpretativo da realidade, uso meu olhar filosófico para
dimensionar a forma como todos nós experimentamos a derrota. Devo dizer que o
impacto da goleada estremeceu meu brio, minha honra nacional. O instante foi de
incredibilidade. Que estava acontecendo? Por que nossos jogadores se deixaram
vencer daquele modo?! Detenho-me em
analisar o nosso treinamento para o êxito, sempre. Isso é falacioso. Nenhum de
nós, sujeitos limitados, vencemos sempre, todo o tempo, sem nenhum revés, seja
na vida pessoal, seja no âmbito profissional.
Além
do mais, como seres imperfeitos, finitos, contingentes, não temos condições de
grandezas absolutas e perfeições irreparáveis. Ao contrário, ao longo de nossas
vidas são necessárias correções de rumo, continuamente, esforços inusitados
para atingir metas, escolhas as mais sérias para realizarmos nosso projeto de
vida e mais do que nunca termos a consciência plena de que a glória é fugaz. Alguém,
em um momento está no topo da pirâmide, em outro, cai e é substituído,
imediatamente e até esquecido.
Não
analiso, aqui, as conjunturas que antecederam a escolha e o treinamento de
nossos atletas, pois não sou expert
em táticas e estratégias futebolísticas. É evidente que houve erros de
dirigentes, bem como conveniências e interesses que se sobrepuseram ao elemento
principal, que é a formação de atletas competitivos para disputar uma copa do
mundo. Em todo caso, sabemos que a notícia se torna um produto a ser vendido e
o atleta comparece nesse cenário também como uma mercadoria cara, representando
o conjunto de interesses de seus patrocinadores, que estão de mãos estendidas
para receberem o lucro do capital investido.
É
possível que possamos tirar uma lição desse evento que passou a ser denominado
vexame ou vergonha nacional. Temos que cuidar da formação inicial dos sujeitos,
que deve incluir o aprendizado de perdas, o sentimento de limites com as
próprias emoções e, mais do que nunca, compreender que não há permanência no podium da vida, nem sempre podemos
brindar o sucesso com um famoso champanhe. Às vezes só temos nossas lágrimas
como gotas a nos molharem a face, registrando nossa imperfeição. Afinal, precisamos
entender a fugacidade da glória.
Cecília Pires