11.7.14

A Fugacidade da Glória

          Desde pequenos somos estimulados a vencer sempre e em tudo sermos os melhores. Da família, passando pelos períodos iniciais da vida escolar, às iniciações religiosas, todo o tempo de nossa formação é voltada para o êxito.        
          Será essa atitude vinculada ás compreensões dos limites humanos?  Em ocasiões de vitória ou de fracasso são chamados para serem ouvidos, como bons arautos, psicólogos, antropólogos, sociólogos, economistas e demais especialistas. Como raramente é chamado o filósofo para dar seu parecer, ouso opinar, sem ser chamada.
Trata-se do que estamos vivenciando, como povo, como sociedade brasileira, o evento da Copa do Mundo e, particularmente, o fracasso da seleção, que, no meu tempo, era chamada de seleção canarinha, a qual aprendi a amar, torcendo sempre pelo seu sucesso. Pois bem, neste momento, parece que vivenciamos um luto, tal o tamanho da perda que sofremos como país, nação, povo, imaginário nacional, enfim, tudo o que quisermos caracterizar.
Falo do meu lugar interpretativo da realidade, uso meu olhar filosófico para dimensionar a forma como todos nós experimentamos a derrota. Devo dizer que o impacto da goleada estremeceu meu brio, minha honra nacional. O instante foi de incredibilidade. Que estava acontecendo? Por que nossos jogadores se deixaram vencer daquele modo?!  Detenho-me em analisar o nosso treinamento para o êxito, sempre. Isso é falacioso. Nenhum de nós, sujeitos limitados, vencemos sempre, todo o tempo, sem nenhum revés, seja na vida pessoal, seja no âmbito profissional.
Além do mais, como seres imperfeitos, finitos, contingentes, não temos condições de grandezas absolutas e perfeições irreparáveis. Ao contrário, ao longo de nossas vidas são necessárias correções de rumo, continuamente, esforços inusitados para atingir metas, escolhas as mais sérias para realizarmos nosso projeto de vida e mais do que nunca termos a consciência plena de que a glória é fugaz. Alguém, em um momento está no topo da pirâmide, em outro, cai e é substituído, imediatamente e até esquecido.
Não analiso, aqui, as conjunturas que antecederam a escolha e o treinamento de nossos atletas, pois não sou expert em táticas e estratégias futebolísticas. É evidente que houve erros de dirigentes, bem como conveniências e interesses que se sobrepuseram ao elemento principal, que é a formação de atletas competitivos para disputar uma copa do mundo. Em todo caso, sabemos que a notícia se torna um produto a ser vendido e o atleta comparece nesse cenário também como uma mercadoria cara, representando o conjunto de interesses de seus patrocinadores, que estão de mãos estendidas para receberem o lucro do capital investido.
É possível que possamos tirar uma lição desse evento que passou a ser denominado vexame ou vergonha nacional. Temos que cuidar da formação inicial dos sujeitos, que deve incluir o aprendizado de perdas, o sentimento de limites com as próprias emoções e, mais do que nunca, compreender que não há permanência no podium da vida, nem sempre podemos brindar o sucesso com um famoso champanhe. Às vezes só temos nossas lágrimas como gotas a nos molharem a face, registrando nossa imperfeição. Afinal, precisamos entender a fugacidade da glória.


Cecília Pires