9.5.13

Desequilíbrios e Vítimas


          Os jornais, rádios, televisão, a mídia como se denomina, hoje, produz uma imensidade de notícias sobre vítimas dos desequilíbrios humanos. Ora, são pessoas feridas e mortas por bombas, em outro canto do planeta meninas são violentadas, por motivos religiosos (?) por desejarem estudar e viver com normalidade.

Aqui e acolá religiosos, de várias crenças, que aparecem à sociedade como guardiães da moralidade, surpreendem a todos nós por atitudes de aviltamento, aniquilação, violência sexual com pessoas que estariam sob sua proteção e bênção (?). São os sepulcros caiados do evangelho, por fora aparência belas e corretas e por dentro maldade e podridão.

Adultos que sequestram jovens e adolescentes e as confinam anos a fio, como feras em jaulas.  Distantes do mundo, as vítimas conseguem por acaso ou sorte escapar da vigilância de seus algozes e pedir socorro, como vimos no caso recente das moças de Cleveland.

Não se pode mais circunscrever os desequilíbrios dos sociopatas ou psicopatas a determinados lugares ou regiões do globo. Nos países avançados, nos lugares mais desprovidos dos avanços tecnológicos e econômicos, nos quatro cantos da terra verificamos o surgimento de vítimas desses desequilíbrios. Não cabe mais a Europa ou a América do Norte apontar o dedo para os outros povos acusando-os de crime, quando dentro de seus territórios a tragédia do assassinato das populações se faz presente todo o tempo. As pessoas morrem trabalhando, rezando, divertindo-se como alvos da incúria das autoridades e dos desequilíbrios pessoais e sociais.

Estudiosos de vários matizes são pródigos em argumentar que a violência é própria do ser humano e que não há muito a fazer, senão deixar claro os mecanismos de controle para intimidar os malfeitores. Mas será assim mesmo?! Não há recuperação para a humanidade? Tudo o que resta é intimidar, reprimir e encarcerar?

Estaremos deixando de lado a possibilidade da educação dos sujeitos desde o início de suas vidas? Sabemos pelos cientistas que os anos iniciais da vida das pessoas são significativos na formação da personalidade e do caráter. Parece que isso ainda não foi superado, não só como tese acadêmica, mas como experiência cotidiana. Então, será que os investimentos na formação dos sujeitos estão sendo suficientes aqui e em outros países?!

Formação que signifique valores universais como a vida. Pois é lógico que os jovens que lançaram a bomba em Boston não eram analfabetos nem tinham problemas de inteligência ou equivalente. Mas, quais eram seus valores? Que lhes foi dito sobre a vida? E os jovens brasileiros que atearam fogo na dentista, aqui em São Bernardo, que sabem sobre a vida como um valor? E o que pensam sobre o assunto os líderes mundiais, como o coreano, que desejam dominar o mundo pela bomba atômica?

O que nos ocorre pensar é que os desequilíbrios que produzem vítimas não podem ser considerados, apenas, como impactos das notícias que invadem nossas casas e incomodam a nossa tranquilidade. Há que se produzir uma nova compreensão do fenômeno da violência, não como algo marginal em nossos estudos, reflexões e experiências, mas como um forte eixo que requer a expressão de valores e o avanço na exigência de todos para com todos na demarcação de uma postura séria diante de autoridades e governos, organizando uma sociedade civil que viva uma política de “cuidado com o mundo” como propõe Hannah Arendt.

 

Cecilia Pires

 

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