Quando os índios, que não
se chamavam índios, foram violados na chegada de Cabral, ainda não havia
Parlamento no Brasil e nem o lugar era este país chamado Brasil.
Os anos se passaram e as
formas de violência e aniquilação sobre os chamados “primitivos habitantes da
nossa terra” continuaram. De uma terra “desconhecida” este lugar passou a
Colônia de Portugal, e, depois
de três séculos, tornou-se Império e proclamou-se a República. Com esta,
surge outra organização social e política, em que o povo pode eleger seus
representantes, inclusive o povo indígena.
Se isto ocorreu dessa
forma, em que a democracia representativa permite que todos os segmentos
sociais reclamem, protestem nas ruas, façam greves, entrem no Parlamento e
acompanhem votações de interesse de classe, por que causa espanto e quase pavor
a entrada na Câmara dos Deputados dos líderes indígenas?! Eles podem ou não
protestar? O que se viu foi uma correria de parlamentares e demais presentes
quando os líderes indígenas adentraram no plenário, o que foi denominado invasão.
Agora é invasão... em 1500 foi descoberta... Sabemos que as palavras são
habitadas pelos significados que demos a elas. Então, podemos refletir sobre o
significado de invasão...
O que pediam os líderes
indígenas? Que fosse retirada a PEC 215.
A Proposta de Emenda Constitucional 215/00 retira do Poder Executivo e passa
para o Congresso a decisão final sobre a demarcação das terras indígenas no
Brasil.
Mas até quando faremos
uma espécie de círculo de fogo para determinar fronteiras geográficas e
culturais, onde os povos indígenas deverão ficar restritos?! Eles estavam aqui
desde o início, desde o “descobrimento”. Livres, sem algemas e sem a experiência
da territorialidade canhestra e opressora. Eram denominados selvagens pelos civilizados invasores.
Esses civilizados atuais
se espantam e correm apavorados diante dos líderes indígenas como se estivessem
vendo os monstros dos filmes de terror.
E os parlamentares, lideranças dos civilizados, querem definir que os
povos indígenas fiquem confinados em determinadas áreas e que não cabe
negociação com seus líderes. Apenas a liderança do povo branco, civilizado, é
quem pode definir onde os povos indígenas devem e podem viver.
Disse o Presidente da
Câmara dos Deputados no seu arroubo de oratória parlamentar que “o respeito a
esse plenário é inegociável”. Muito bem! E o respeito aos povos indígenas deve
entrar nas tramas das negociações e interesses de outros, que não os próprios sujeitos
da história?! Se o respeito fosse efetivamente inegociável, não veríamos no
Parlamento as “figuras públicas” que vemos e que, inclusive, presidem o
Parlamento Nacional. Isto não causa espanto e correria no plenário!!?
Mais um Dia do Índio,
mais um 19 de abril, determinado pela consciência culpada do Estado, em que os
povos indígenas têm pouco a comemorar... Talvez quizessem de presente suas
terras apropriadas pela ganância dos expropriadores, sempre a serviço do grande
capital.
Sabemos, no entanto, que eles
não receberão esse presente. Algumas falas, endossadas pelo discurso vazio de
promessas vãs, marcarão mais esse dia. Em todo caso, a eles nossa solidariedade
e compromisso com uma luta legítima, ainda que não reconhecida por todas as
lideranças da República. Que eles ainda tenham condições de ter uma vida boa e
justa, prevista pela democracia para todos.
Um comentário:
Olá, meu nome é Micheli e eu sou de SC. estudo na 2° série do ensino médio e estou fazendo um trabalho sobre as mulheres na filosofia. então cada aluno precisa escrever sobre a biografia e também as ideias das principais filósofas, e coube para mim escrever sobre você, mas eu não encontrei em nenhum site sua biografia, só encontrei seu blog e algumas entrevistas suas. Você pode me ajudar com isso? desde já agradeço... Abraço
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