Vivemos como
pensamos ou pensamos como vivemos? Trata-se de uma importante questão para os
que se preocupam em usar o cérebro. Especialistas os mais diversos estão a
estudar o cérebro numa perspectiva além das estruturas anatômicas e
fisiológicas. Busca-se pensar o funcionamento do cérebro naquilo que ele é
estimulado e condicionado por nossas vivências.
O filósofo
Krishnamurti nos estimula a pensar sobre a importância do cérebro nos condicionamentos
da nossa vida, nas várias instâncias desde a vida relacional até os níveis mais
sofisticados do conhecimento. Ele diz que ler e não aplicar concretamente, de
nada adianta, pois não tem qualquer significado.
Somos esse
conjunto de processos cerebrais que nos induzem a compreensões culturais,
religiosas, ideológicas, valorativas das quais decorrem o tipo de vida que
levamos. Condicionamos nosso cérebro a lidar com as questões vividas pela
percepção que temos sobre as pessoas, as coisas, a natureza, etc. Como se
valida em nós uma ideia de preconceito, por exemplo? Alimentamos essa ideia e
ao torná-la forte em nós, nosso cérebro concentra a ideia de preconceito que se
traduz em atitudes. Então podemos abastecer nosso cérebro com ideias de generosidade,
ao invés de condicioná-lo com ideias egoístas ou individualistas, podemos se
quisermos assumir valores edificantes, ou não, ao que está sendo dito e
ouvido? O ato de escutar é muito
importante, mas praticar o que se aprendeu, na esfera do bem, é imprescindível.
Nossos
cérebros programam e condicionam nosso modo de vida. As preocupações mais
diversas, as nossas dores e nossos preconceitos condicionam nosso cérebro a
pensar, elaborar e agir. Trata-se de querermos investigar a qualidade da nossa
própria vida, a natureza do nosso comportamento e o processo do nosso
pensamento. O nosso cérebro desenha a fisionomia que temos do mundo.
Quando
estabelecemos laços conceituais com o mundo fizemos uma espécie de tradução dos
dados empíricos, elaborados pelo nosso cérebro. Não se trata de aceitar um viés
idealista, que admite formas pré-estabelecidas para conhecer a realidade das
pessoas e das coisas. O que se quer destacar é o fato de que dados são
armazenados em nosso cérebro, possibilitando que o nosso foco de atenção tenha
uma direção, expresse valores, apresente compreensões diversas e,
especialmente, que se possa produzir condicionamentos razoáveis para viver a
vida possível, quando não se pode viver a vida desejável.
Na esfera da
consciência, há um ir e vir de experiências tanto teóricas, quanto empíricas e
que resultam do processo pelo qual alimentamos nosso cérebro. Produz-se, então,
um acúmulo de reflexões dando ao sujeito possibilidades de pensar o próprio
pensamento. Tudo isso pode oportunizar uma forma de vida mais qualificada,
menos sofrida e, sobretudo, melhor assumida com autonomia e responsabilidade,
se condicionarmos nosso cérebro para o bom e o justo.
Deixamos de ver
“fantasmas”, de temer prognósticos sombrios, de ter pensamentos derrotistas e fatalistas, dinamizando nosso cérebro para uma fidelidade
com a vida, que escolhemos viver. Nosso cérebro se condiciona para mudar a fisionomia do mundo.
Cecilia
Pires
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