23.5.13

Nosso cérebro


Vivemos como pensamos ou pensamos como vivemos? Trata-se de uma importante questão para os que se preocupam em usar o cérebro. Especialistas os mais diversos estão a estudar o cérebro numa perspectiva além das estruturas anatômicas e fisiológicas. Busca-se pensar o funcionamento do cérebro naquilo que ele é estimulado e condicionado por nossas vivências.
O filósofo Krishnamurti nos estimula a pensar sobre a importância do cérebro nos condicionamentos da nossa vida, nas várias instâncias desde a vida relacional até os níveis mais sofisticados do conhecimento. Ele diz que ler e não aplicar concretamente, de nada adianta, pois não tem qualquer significado.
Somos esse conjunto de processos cerebrais que nos induzem a compreensões culturais, religiosas, ideológicas, valorativas das quais decorrem o tipo de vida que levamos. Condicionamos nosso cérebro a lidar com as questões vividas pela percepção que temos sobre as pessoas, as coisas, a natureza, etc. Como se valida em nós uma ideia de preconceito, por exemplo? Alimentamos essa ideia e ao torná-la forte em nós, nosso cérebro concentra a ideia de preconceito que se traduz em atitudes. Então podemos abastecer nosso cérebro com ideias de generosidade, ao invés de condicioná-lo com ideias egoístas ou individualistas, podemos se quisermos assumir valores edificantes, ou não, ao que está sendo dito e ouvido?  O ato de escutar é muito importante, mas praticar o que se aprendeu, na esfera do bem, é imprescindível.
Nossos cérebros programam e condicionam nosso modo de vida. As preocupações mais diversas, as nossas dores e nossos preconceitos condicionam nosso cérebro a pensar, elaborar e agir. Trata-se de querermos investigar a qualidade da nossa própria vida, a natureza do nosso comportamento e o processo do nosso pensamento. O nosso cérebro desenha a fisionomia que temos do mundo.
Quando estabelecemos laços conceituais com o mundo fizemos uma espécie de tradução dos dados empíricos, elaborados pelo nosso cérebro. Não se trata de aceitar um viés idealista, que admite formas pré-estabelecidas para conhecer a realidade das pessoas e das coisas. O que se quer destacar é o fato de que dados são armazenados em nosso cérebro, possibilitando que o nosso foco de atenção tenha uma direção, expresse valores, apresente compreensões diversas e, especialmente, que se possa produzir condicionamentos razoáveis para viver a vida possível, quando não se pode viver a vida desejável.
Na esfera da consciência, há um ir e vir de experiências tanto teóricas, quanto empíricas e que resultam do processo pelo qual alimentamos nosso cérebro. Produz-se, então, um acúmulo de reflexões dando ao sujeito possibilidades de pensar o próprio pensamento. Tudo isso pode oportunizar uma forma de vida mais qualificada, menos sofrida e, sobretudo, melhor assumida com autonomia e responsabilidade, se condicionarmos nosso cérebro para o bom e o justo.
Deixamos de ver “fantasmas”, de temer prognósticos sombrios, de ter pensamentos derrotistas e fatalistas, dinamizando nosso cérebro para uma fidelidade com a vida, que escolhemos viver. Nosso cérebro se condiciona para mudar a fisionomia do mundo.
Cecilia Pires


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