Observo a dedicação dos
pássaros na construção do seu ninho. De forma paciente, dia a dia, trazem
folhas, pequenos ramos
para dar conforto aos filhotes que estão por nascer. O preparo do ninho, da
casa, é um modo de preparar a chegada dos novos. A Vida precisa desse preparo,
dessa acolhida.
Os pais também se
envolvem no preparo da casa, com o cuidado necessário e carinhoso para receber
a criança que está para nascer. Horas e horas dedicam-se a planejar, a calcular,
a decidir sobre as mudanças a serem feitas para maior conforto de quem chega ao
mundo. Pessoas e pássaros celebram a Vida. A consciência dos humanos e o instinto
das aves se expressam de modo natural para abrigar os filhos e os filhotes.
Nesse cotidiano das minhas
observações, registro os detalhes de uns e outros. As aves gorjeiam de galho em
galho, talvez, procurando o material que produza mais maciez para o ninho em
construção. As pessoas buscam, escolhem, criam espaços possíveis para a casa,
que logo terá um novo habitante. Casas e ninhos se constroem com paciência,
passo a passo, com esforço e, ouso afirmar, com alegria!
Da minha vitrine em que
observo o mundo, vejo mais longe e constato que há os que não possuem casa, não
construíram um ninho para abrigar a prole. Motivos, muitos. Razões, as de
sempre. Adversidades materiais. Escolhas erradas? Talvez... Linha de pobreza
ainda não superada? Pode ser... O constatável é a ausência desse lugar da
intimidade, a casa, o ninho, onde se vive a mais genuína identidade consigo
mesmo. Sentir-se em casa é estar à vontade. Um lugar de referência é a casa da
gente. Um lugar que não é apenas a expressão de uma materialidade dura, mas uma
significação de afetos e emoções. Quando se está triste, busca-se a casa. E quando
se está alegre corre-se para casa, tudo para compartilhar a intimidade dos próprios
segredos.
Parece que, quando
envelhecemos, nos tornamos mais sérios, mais sábios e mais sensíveis. Será
mesmo uma trilogia determinista, ou, a constatação de que temos um olhar
diferente sobre a Vida? Nesse tempo, o da velhice, já construímos e
participamos de muitas construções de casas e de ninhos e já vimos muitas
des-construções. Até um pouco mais silenciosos (mais um s), na casa. Tudo isso
nos permite acreditarmos na construção. Nossas opiniões e convicções se
tornaram um pouco mais sérias, sábias, sensíveis e silenciosas. Ou não.
As aves continuam sua
tarefa de construir ninhos para seus filhotes, os pais prosseguem na sua
atitude de responsabilidade, construindo a casa para seus filhos. Os seres
vivos manifestam a Vida de todas as formas e é importante que estejamos atentos
para essa dinâmica. O cuidado com os que entram no mundo é o cuidado com a Vida.
É o acolhimento dos novos seres.
Construir implica em
cuidar da natureza. A construção precisa produzir uma cultura que esteja em
acordo com a natureza. Crianças e pássaros necessitam de casas e ninhos. Os que
preparam sua chegada tudo fazem para abrigá-los. Este preparo faz parte da
espera. Uma celebração da Vida como
acontecimento.
11.04.2013
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