11.4.13

Construção


Observo a dedicação dos pássaros na construção do seu ninho. De forma paciente, dia a dia, trazem folhas, pequenos ramos para dar conforto aos filhotes que estão por nascer. O preparo do ninho, da casa, é um modo de preparar a chegada dos novos. A Vida precisa desse preparo, dessa acolhida.
Os pais também se envolvem no preparo da casa, com o cuidado necessário e carinhoso para receber a criança que está para nascer. Horas e horas dedicam-se a planejar, a calcular, a decidir sobre as mudanças a serem feitas para maior conforto de quem chega ao mundo. Pessoas e pássaros celebram a Vida. A consciência dos humanos e o instinto das aves se expressam de modo natural para abrigar os filhos e os filhotes.
Nesse cotidiano das minhas observações, registro os detalhes de uns e outros. As aves gorjeiam de galho em galho, talvez, procurando o material que produza mais maciez para o ninho em construção. As pessoas buscam, escolhem, criam espaços possíveis para a casa, que logo terá um novo habitante. Casas e ninhos se constroem com paciência, passo a passo, com esforço e, ouso afirmar, com alegria!
Da minha vitrine em que observo o mundo, vejo mais longe e constato que há os que não possuem casa, não construíram um ninho para abrigar a prole. Motivos, muitos. Razões, as de sempre. Adversidades materiais. Escolhas erradas? Talvez... Linha de pobreza ainda não superada? Pode ser... O constatável é a ausência desse lugar da intimidade, a casa, o ninho, onde se vive a mais genuína identidade consigo mesmo. Sentir-se em casa é estar à vontade. Um lugar de referência é a casa da gente. Um lugar que não é apenas a expressão de uma materialidade dura, mas uma significação de afetos e emoções. Quando se está triste, busca-se a casa. E quando se está alegre corre-se para casa, tudo para compartilhar a intimidade dos próprios segredos.
Parece que, quando envelhecemos, nos tornamos mais sérios, mais sábios e mais sensíveis. Será mesmo uma trilogia determinista, ou, a constatação de que temos um olhar diferente sobre a Vida? Nesse tempo, o da velhice, já construímos e participamos de muitas construções de casas e de ninhos e já vimos muitas des-construções. Até um pouco mais silenciosos (mais um s), na casa. Tudo isso nos permite acreditarmos na construção. Nossas opiniões e convicções se tornaram um pouco mais sérias, sábias, sensíveis e silenciosas. Ou não.
As aves continuam sua tarefa de construir ninhos para seus filhotes, os pais prosseguem na sua atitude de responsabilidade, construindo a casa para seus filhos. Os seres vivos manifestam a Vida de todas as formas e é importante que estejamos atentos para essa dinâmica. O cuidado com os que entram no mundo é o cuidado com a Vida. É o acolhimento dos novos seres.
Construir implica em cuidar da natureza. A construção precisa produzir uma cultura que esteja em acordo com a natureza. Crianças e pássaros necessitam de casas e ninhos. Os que preparam sua chegada tudo fazem para abrigá-los. Este preparo faz parte da espera.  Uma celebração da Vida como acontecimento.
 
11.04.2013

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