7.8.15

Para pensar a Paz

Que dizer sobre as cidades que viraram cinzas? Qual racionalidade explica o gesto da destruição? Que passou na cabeça do piloto, naquela distante manhã de 6 de agosto de 1945, quando acionou o dispositivo e fez detonar a bomba de urânio que caiu sobre Hiroshima?
Que inquietações teria, naquele momento, em que sobrevoava a cidade e aniquilava a população?! Poderia ter questionado a ordem recebida e não ter cumprido a missão que lhe fora determinada?! Sartre diria que sim, tudo é uma questão de escolha. O piloto escolheu cumprir a ordem de explodir a bomba, não sem pensar. Sua ação foi movida por sua inteligência. É lógico que sua desobediência poderia ter consequências punitivas, mas todos os atos humanos têm consequências e nem sempre as melhores. Este foi o caso. Uma população dizimada. O descumprimento da ordem, se fosse essa sua escolha, talvez tivesse mudado o rumo da história.
Nem todas as comemorações são para celebrar alegria. No dia de hoje, em que se assinala 70 anos do lançamento da bomba atômica sobre uma população desprotegida, lembra a pouca ou nenhuma importância que é dada à vida humana. Os experimentos bélicos devem ser testados, movidos por interesses de domínio e exploração, ainda que isso resulte em dores e mortes.
No cenário de 80 mil mortos e 60 mil vitimados pelos efeitos da bomba, como pensar em re-orientar a Vida? A quem cabe essa responsabilidade civil, pública, humanitária? Em nome de que e de quem foi feito o experimento devastador sobre uma população desamparada, desprevenida, cujo destino foi ser alvo de algozes dos senhores da guerra?!
Os monumentos erguidos, as comemorações realizadas, as atitudes de autoridades constrangidas, que podem trazer para a cena atual?! Há um verdadeiro interesse pela paz ou essa palavra, deslocada de seu sentido, tem conotações diferentes entre as vítimas e os opressores?!
Hannah Arendt assevera em seus textos que a humanidade tem ações imprevisíveis e isso é atemorizante. É preciso pensar sobre o que foi feito para que não se repita, refere ela, falando sobre o genocídio judeu. Essa advertência cabe perfeitamente no caso de massacres semelhantes como o ocorrido nas cidades japonesas.
Mas os genocídios continuaram e continuam com bombas mais sofisticadas, resultantes das rupturas realizadas entre os povos, em conflitos de todo tipo. Vítimas sempre! Punições pouca! Discursos contínuos! E a humanidade, que desejará para si mesma?!
Lembrar 70 anos da destruição de Hiroshima e Nagasaki, realizada pela inteligência tecnológica, é registrar os paradoxos da razão iluminista. Essa razão que cantou louvores a si mesma, imaginando ter saído da “barbárie”, produziu temores pelos enforcamentos, pelas perseguições religiosas e pela morte dos cientistas nas fogueiras da intolerância.
Temos presente essas marcas e podemos almejar um futuro sem tantas cicatrizes, além disso, se quisermos, como humanidade, caminhar de modo diferente.
Hobbes não acreditou nisso e definiu a maldade como traço humano. Rousseau, romanticamente, pensou numa humanidade boa, simplesmente. Para nós, cabe o desafio de superar maniqueísmos de bem e mal e enfrentarmos o tempo presente pela revolução ética, além dos individualismos e das ideologias.

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