Pensar
em homenagem à mulher e às mulheres todas, inúmeras, incontáveis me faz
relembrar da minha infância, vivida entre mulheres que trabalhavam, eram
zelosas com seus filhos e maridos, autênticas, sem muito conhecimento teórico,
mas com grande sabedoria para viver a vida, nem sempre projeto delas. De tantas
mulheres que povoaram meus caminhos de criança tenho na memória as Adélias, as
Castorinas, as Terezas, as Marias de todos os tons e sabores e a Mercedes, que
era a minha mãe. Essas mulheres não sabiam, à época, que tinham direitos, tanto
quanto os homens, nem mesmo que poderiam fazer greves e lutar pelo que
desejavam e que um dia no calendário, haveria um dia específico, que seria o
Dia Internacional da Mulher. No silêncio de seus corações e mentes sabiam que
embalavam um mundo, quando embalavam o berço, como referia uma mensagem
divulgada naquele tempo.
Minha
lembrança me traz aos olhos e à mente a figura da minha mãe, já referida, uma
mulher responsável e digna na sua simplicidade grandiosa, que foi à luta para
criar as filhas, no enfrentamento de preconceitos e segregações. Vejo-a, noites
a fio, na sua máquina de costura, envolvida com suas criações e modelos,
produto de um trabalho a ser comerciado, para auxiliar no sustento da família.
Se cheguei a ser a professora, que me tornei devo muito a essa pessoa singular
em minha vida, que junto com meu pai me passou valores de autonomia e honradez.
Contava-me que aos 9 anos desejava muito aprender a ler e pediu com insistência
para ir à escola. Um parente ouviu seu pedido e a matriculou numa escola
pública no interior deste Rio Grande do Sul. Ficou feliz a pequena menina órfã
por conseguir lidar com as letras, além dos seus contornos. E se hoje eu lido
com as letras, por dentro de seus significados, houve uma origem exemplar na
minha vida, minha mãe, que sempre foi sensível ao conhecimento, criando todas
as condições para que eu fizesse a minha caminhada, cuidando, mais tarde dos
meus filhos pequenos para que realizasse meus estudos de doutoramento.
Por
isso, nesse dia, que a homenagem à mulher é realizada sobre todos os aspectos,
eu homenageio na pessoa de minha mãe, Mercedes, a mulher trabalhadora, a mulher
honrada, a mulher negra, a mulher indígena, a mulher discriminada pelo
preconceito, a mulher lutadora, a mulher de fé, a mulher que acredita que tem
um lugar no mundo para construir uma relação de solidariedade com todos, que
encontra, também, no espaço do lar um campo de luta.
Com
carinho e alegria por ter vivido até aqui, abraço a todas as mulheres que hoje,
vivem num mundo de inúmeras contradições, de violência, de negação de direitos
e mesmo assim resistem e continuam assumindo este papel inteligente de
compreensão das complexidades da vida.
Às
mulheres quero dizer que o dia de hoje seja comemorado com a lucidez de quem
sabe, que os nossos companheiros homens, solidários com as nossas conquistas,
fazem parte deste processo de crescimento da sociedade com mais tolerância e
igualdade.
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