25.8.12

O Vestido Roto



A menina desceu da árvore; o galho, no qual estava sentada, quebrou-se. Prendeu uma ponta do vestido e com o esforço feito para se desvencilhar do galho rasgou o vestido. Raivosa ela puxou mais o galho enrolado no vestido e rasgou mais a roupa. Conseguiu descer e postou-se no chão, enrubescida.

Logo, ouve a voz da mãe que a chamava para auxiliar nas tarefas da casa. Não responde, pois quer se esconder para não ser vista com o vestido naquele estado.

Corre para seu quarto para trocar-se, quando ouve o barulho na porta e sua mãe irrompe quarto a dentro. Que ocorreu, Camila? Está trocando de roupa, agora?! Camila olha a mãe entre temerosa e raivosa e responde. Nada. Só queria trocar o vestido. Por quê? Insiste a mãe; não mente para mim, o que houve?

Do rosto da menina o olhar da mãe se dirige para algo amontoado no chão. Vai até ali e recolhe. Abre e vê o vestido rasgado. Olha para a menina, mostrando e perguntando, ao mesmo tempo.

O que você fez? Como rasgou seu vestido?

A menina corre chorando em direção à mãe, arranca de suas mãos o vestido e diz. Deixa! Não mexe nas minhas coisas.

A mãe sacode a menina pelos ombros e grita: Fala a verdade. Como rasgou o vestido?

Camila pensa em contar, e, ao mesmo tempo, teme o que pode suceder, mas balbucia: - Estava brincando na ameixeira e fui descer, meu vestido enroscou no galho. Não consegui soltar sem puxar e rasgou.

- Por que foi subir na árvore? Não sabe que isso é brincadeira de menino? Como uma menina sobe em árvore?!

Camila nada fala e pensa nas futuras proibições em relação as suas brincadeiras.

A mãe vocifera: - Você está de castigo. Sem brincar por uma semana e não terá um novo vestido para a festa da Escola.

A menina fecha a porta do quarto, logo que a mãe sai, e atira-se na cama a chorar... Por que gente grande não entende as crianças, pensa em meio aos seus soluços. O galho não sabia que iria rasgar meu vestido. Eu não queria estragar meu vestido. Só queria brincar. Por que vou ser castigada?! Se agora que sou criança eu não brincar, quando então?!

No domingo, para ir à festa da Escola, Camila não tinha um vestido novo, como as colegas. Pensou em não ir. Mas, foi ao seu pequeno armário, viu alguns vestidos usados, já doados por gente caridosa, e escolheu o que estava melhor. Sua condição de pobreza não a impedia de ter bom gosto, de desejar se sentir bonita como as demais meninas de sua idade. Vivendo nas cozinhas e dependências de empregados, observava o desfilar das filhas dos patrões de sua mãe.

Vestiu-se e saiu de seu quarto para encontrar a mãe, que a levaria à Escola.

Súbito, tocam na porta. Sua mãe vai abrir. Quem aparece? Adélia, sua madrinha. Carrega um pacote na mão. Abraça Camila e entrega o pacote. Quero vê-la bonita na festa da Escola. Adélia se dedicava a pequenas costuras e recebia alguns cortes de tecido de suas clientes. Pensava sempre em Camila, sua afilhada, que vivia com dificuldades, dado a condição de sua mãe, empregada doméstica. Toda vez que podia, fazia algo para a menina. Desta vez, havia lembrado da festa, na Escola, e apressou-se em fazer um vestido novo para ela.

Camila agradece, abre o pacote. Está ali um lindo vestido, enfeitado com rendas, no tom rosa que ela gosta. Corre para abraçar a madrinha; seus olhos são contas úmidas. Agora, suas lágrimas são de alegria.



Cecilia Pires









Um comentário:

Anônimo disse...

Agora pouco consegui ler o seu conto. Pela tarde, quando nos falamos, eu havia tentado ler e não conseguia, o fazia pelo celular e por isso fracassava. Quando saí do francês guardava na cabeça uma estória que precisava redigir. Hoje escrevi um conto a respeito de um garoto sequestrado chamado Oliver e há uma cena a respeito da vida de meu personagem que relata que o mesmo sobe em uma árvore e rasga a calça e a mãe briga. Em verdade o fato é um pouco autobiográfico, certa feita subi na árvore e não apenas quebrei o braço, como também rasguei a calça, na verdade a maior parte do meu conto é consideravelmente autobiográfica, mas escrevemos basicamente sobre situações consideravelmente próximas. Semana passada escrevi sobre uma pessoa com o joelho machucado, minha ideia, hoje, era escrever sobre um menino que, além de machucar o joelho, rasga a calça e a mãe briga inutilmente. O que quero dizer é que, de algum modo fantasmagórico, as palavras nos aproximaram de uma maneira avassalar. Seu conto mantém o ritmo de uma estória sensível a respeito de uma criança cujas lágrimas significam a redenção. Sua sensibilidade é única, o que faz de Camila única. Não sabia que escrevias e sim, espero poder compartilhar tantas experiências literárias e não literárias que o tempo nos permitir compartilhar. Aqui guardo o meu carinho sincero e minha profunda admiração pela filósofa que sempre serás.